Memória Estanque

Simulação baseada em protocolos psicológicos

MEMÓRIA ESTANQUE é uma instalação composta de um cérebro gigante estilizado e 3 telas de LED. No cérebro há 10 gavetas retráteis que são auto ejetadas randomicamente. Quando as gavetas abrem visualiza-se pequenos vídeos que rodam em uma tela de LCD adaptados a um gravador de CD de computador. A instalação oferece uma experiência sonora, visual e sinestésica raptando a atenção do público devido a automação do processo.

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Processos

Cada gaveta permanece 7 segundos aberta e quando uma gaveta fecha outra abre de forma aleatória completando um ciclo de 1 minuto e 16 segundos intermitentemente ciclo após ciclo ad infinitum. No centro da estrutura uma composição organizada de pequenas lâmpadas de LED recriam um sistema neural e suas ações sinápticas. A massa sólida do cérebro é moldada utilizando material metálico (telinha de metal) para um aspecto mais ciber ou polímero (silicone) para uma representação mais orgânica. Será necessário experimentação para a escolha da estética mais relevante.

A memória é objeto de estudo e pesquisa nas várias áreas do conhecimento humano abarcando desde a interpretação de sonhos até a busca das causas e por conseguinte à cura de doenças relacionadas à mente e ao envelhecimento das células nervosas. As ciências debruçam-se nesse tema através dos séculos com o grego Platão ensinando em Atenas que o cérebro é o centro dos processos mentais no longínquo ano de 387 A.C, ou Galvani descobrindo em 1780 a base elétrica das atividades nervosas. No século IXX a psicanálise de Freud discorre sobre o conceito de inconsciente ligado à memória e no seguinte Brian Weiss usa a hipnose em sua terapia de vidas passadas, e na busca do entendimento desses processos a psiquiatria moderna se vale de uma abordagem multidisciplinar para chegar a um consenso a respeito de transtornos mentais e outras consequências dos desvios de conduta comportamental de indivíduos vitimados pelos traumas de sua condição de “Ser Humano”. Diante dessa premissa de que o caleidoscópio das razões que levam um indivíduo a desenvolver algum tipo de psicose decorrente de seus traumas existenciais exponho como um dos membros da comunidade de pessoas de ascendência africana a problemática do efeito neuro mutilador que o racismo em todas as suas esferas impacta na mente dos cidadãos ditos “negros”. Esse impacto que produz na mente o sentimento de inferioridade e que não é discutido em larga escala pela sociedade, explode em manifestações coletivas de tempos em tempos a cada chacina deflagrada pelo sistema de controle e manutenção dos poderes nas sociedades. Uma pesquisa publicada no Journal Of Adolescent Health mostra como vídeos com violência policial afetam a saúde mental de jovens negros e desencadeiam sintomas de depressão e transtorno de estresse pós-traumático. A imagem de um cérebro gigantesco ou supercérebro como um espelho amplificador onde cada pessoa reconhece a grande dimensão de seus próprios traumas simula uma espécie de autoterapia visual baseada nas experiências pessoais de análise e estudo de traumas vividos e recriam vetores de ressignificação dos processos neuroanatômicos da percepção e da memória.

As áreas de conhecimento envolvidas no projeto são: Psicologia, Conscienciologia, Desenho, Pintura, Pintura digital, Modelagem 3D, Design gráfico, Instalação, Vídeo, Robótica, Computação gráfica, Programação e Mecânica. A estrutura ou esqueleto é feita de barras de alumínio de vários tamanhos unidos por parafusos ou solda formando os conjuntos de fixação das gavetas e seus respectivos trilhos. As gavetas são de placas de alumínio fixadas em trilhos de mesmo material que são por sua vez fixadas na estrutura correspondente. O sistema cinético das gavetas funciona através de uma programação utilizando uma placa arduino conectada aos gravadores de CD controlando sua abertura e fechamento. As 10 telas de LCD são fixadas ao carro do gravador e cada uma roda um vídeo específico. As telas de LED de 42 polegadas servem como catalisadores das três etapas de projeção mental intercaladas com dinâmicas que vão do trauma à fuga passando pelo sonho. A tela da esquerda rodará um vídeo de 3 minutos com imagens representativas de lembranças minhas e de memórias coletivas de traumas coletivos representando a sociedade traumatizada através de fatos históricos como a lembrança dos navios negreiros ou a violência das senzalas ou o assassinato de George Floyd. A tela central rodará vídeos oníricos representando a capacidade mental de subjetivar o pensamento volitivo da esperança e da ilusão. A tela da direita rodará vídeos representativos da dureza da realidade que faz emergir a capacidade humana de abstrair e moldar as situações à revelia da vida cotidiana e de suas implicações. O ciclo das telas grandes totalizam 9 minutos de reflexão baseada em matéria-prima perceptiva, relatos não lineares, mecanismos psíquicos fragmentados e dados cronológicos de memórias intrauterina. Salvador Dalí pintava quadros com gavetas da memória que serviam para guardar coisas que ele não queria esquecer. Um ambiente virtual construído pela sociedade através de seu preconceito na tentativa de um apartheid mental. A abolição dos espaços cognitivos de territórios trans referenciais onde trafegam as diferenças sociais. Um tratamento para traumas psicológicos originados pelo sofrimento do racismo. A capacidade de um indivíduo negro superar os traumas de toda uma vida. Auto análise - auto terapia. Psicanálise - causas desconhecidas de traumas da psique. Deformação de caráter e da simbologia e visão de mundo. A perspectiva inerente às causas derivadas de supressão da alma e da personalidade. Um cérebro gigante formado por seus aspectos inerentes a seu arcabouço memorial. A inquietação de uma mente doente, flagelada pelo sentimento dissociativo e a constante dissecação virtual de seu cérebro. A exposição do neocórtex que necessita de peças de reposição cognitiva. As memórias negativas que ocupam um volume no cérebro onde uma mensagem alerta que o armazenamento está quase cheio o que leva o indivíduo a deletar arquivos (memórias) para dar mais espaço à possibilidade de novas. Formatar a mente como se limpasse um HD computacional. A computação neuronal como uma cito arquitetura virtual alterando a composição celular na tentativa do não sufocamento existencial.

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